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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

TEMPLÁRIOS: A IRMANDADE DE CRISTO

Eles foram os monges prediletos de santos e papas. Mas acabaram acusados de bruxaria e sodomia. Conheça os Cavaleiros do Templo, a sociedade secreta mais badalada e poderosa da Idade Média
                                      
                              Da Redação da Revista Superinteressante access_time 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 31 out 2008, 22h00 chat_bubble_outline more_horiz
Por Álvaro Oppermann

N
o dia 18 de março de 1314, Paris amanheceu nervosa. Jacques de Molay, grão-mestre da Ordem dos Templários, iria para a fogueira. O condenado à morte pediu duas coisas: que atassem suas mãos juntas ao peito, em posição de oração, e que estivesse voltado para a Catedral de Notre Dame. No caminho, parou e fitou os dois homens que o haviam condenado: o rei Filipe, o Belo, e o papa Clemente 5º. Rogou-lhes uma praga: “Antes que decorra um ano, eu os convoco a comparecer perante o tribunal de Deus. Malditos!” Depois disso, calou-se e foi queimado vivo.
          As chamas que consumiram De Molay também terminaram com uma época, da qual o grão-mestre foi o derradeiro símbolo: a das grandes sociedades secretas da Idade Média. Nenhuma foi tão poderosa quanto a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – nome completo dos templários. “Enquanto o clero e a nobreza se engalfinhavam na luta pelo poder, os templários, sem dever obediência senão ao papa, desfrutavam de uma independência sem par”, diz o historiador britânico Malcolm Barber, autor de A History of the Order of the Temple (“Uma História da Ordem do Templo”, inédito no Brasil).


TROPA DE ELITE
         A ordem foi fundada em Jerusalém, no ano de 1119. Seu propósito era dar proteção aos peregrinos cristãos na Terra Santa. A cidade tinha sido conquistada pelos cruzados em 1099, mas chegar até lá continuava sendo um problemão. Ela era praticamente uma ilha, cercada de muçulmanos por todos os lados. A solução, proposta pelo cavaleiro francês Hugo de Payns, agradou ao rei de Jerusalém, Balduíno 2º: criar uma força militar subordinada à Igreja. A idéia era inédita. Até então, existiam monges de um lado e cavaleiros de outro.

“Payns inventou uma nova figura, a do monge-cavaleiro”, diz Marion Melville, autora de La Vida Secreta de los Templarios (sem tradução para português). O exército seria formado por frades bons de espada, que fariam, além dos votos de pobreza, castidade e obediência, um quarto juramento: o de defender os lugares sagrados da cristandade e, se necessário, liquidar os infiéis. Balduíno alojou-os no local onde outrora fora construído o mítico Templo de Salomão. Daí o nome do grupo: templários.
         Em 1129, a ordem recebeu aprovação do papa no Concílio de Troyes. Em 1139, veio a consagração definitiva: uma nova bula papal isentava os templários da obediência às leis locais. Eles ficariam submetidos, dali em diante, somente ao sumo pontífice. Os Cavaleiros do Templo admitiam excomungados em suas igrejas (o que era uma senhora blasfêmia para a mentalidade religiosa da época). Certa vez, um grupo de templários interrompeu, entre risos e com uma revoada de flechas, uma missa na Basílica de Jerusalém. O padre era de outra ordem, a dos Hospitalários, e entre as duas havia uma rixa histórica. “Apesar da bravura reconhecida, os templários muitas vezes foram censurados por seu orgulho e arrogância”, afirma o historiador francês Alain Demurger no livro Os Templários: Uma Cavalaria Cristã na Idade Média.
         Os Cavaleiros do Templo, também, eram proibidos de se confessar a outros que não fossem os capelães templários. Igualmente, o livro da Regra – que tinha sido escrita por ninguém menos que são Bernardo de Claraval – era restrito ao alto escalão da ordem (leia mais na pág. 27). Os outros tinham de sabê-la de cor. Era uma forma de preservá-la, caso caísse em mãos erradas. Porém, entre cochichos, se especulava que a Regra continha artigos secretos cifrados, cuja interpretação dava posse de conhecimentos esotéricos, como a fonte da juventude ou a transmutação de metais. Com o crescimento da ordem, os templários não pararam mais de receber doações, e em pouco tempo estavam administrando uma gigantesca fortuna espalhada por toda a Europa, composta de peças de ouro, prata, castelos, fortalezas, moinhos, videiras, pastos e terras aráveis. O grupo emitia cartas de crédito: o peregrino à Terra Santa depositava uma determinada soma na Europa, que podia ser resgatada quando chegasse a Jerusalém. “O Templo de Londres foi chamado de precursor medieval do Banco da Inglaterra”, escreve o historiador britânico Edward Burman no livro Templários: Os Cavaleiros de Deus. Isso fez crescer o olho de muitos novos adeptos.

         O teólogo inglês João de Salisbury, em 1179, se perguntava se os cavaleiros não tinham cedido às ambições terrenas. Essa suspeita se tornou certeza em diversos casos. Em 1291, a viúva de um nobre templário foi expulsa de sua propriedade na Escócia pelo chefe da ordem no país, Brian de Jay. Segundo o contrato firmado pelo marido, a posse das terras voltaria à família depois de seu falecimento. Maliciosamente, Brian recusou-se a devolvê-las. E o pior: ordenou que seus homens arrombassem a casa da viúva. Como ela se agarrou à porta, em completo desespero, teve os dedos decepados pela espada de um cavaleiro.
         Enquanto os templários seguraram as pontas na Palestina, todos fizeram vista grossa aos seus desmandos. Porém, quando o jogo na Terra Santa virou, e os muçulmanos gradualmente reconquistaram a região – processo que culminou com a expulsão dos cristãos do solo sagrado em 1303 –, a animosidade contra a ordem explodiu. “A expulsão foi particularmente séria para os templários, cujo prestígio e função se identificavam com a defesa dos lugares da vida, morte e ressurreição de Cristo”, diz Malcolm Barber. Na Alemanha, “beber como um templário” virou sinônimo de bebedeiras, e “Tempelhaus” (a Casa do Templo), lugar de farra e até prostituição.

OS EXPOSTOS
         A ressaca pela perda da Terra Santa, porém, não foi o fundo do poço para os templários. A aliança com o papa, que se mostrava tão útil desde o século 12, revelou-se uma faca de dois gumes. Em 1305, o novo sumo pontífice, Clemente 5º, se tornou aliado do rei da França, Filipe, o Belo. E os dois conspiraram para a destruição da Ordem do Templo. “O rei precisava de dinheiro para financiar seu aparato bélico”, diz Edward Burman. Em 1306, Filipe desvalorizou a moeda francesa. Os parisienses ficaram furiosos e saquearam a cidade. A coisa foi tão feia que Filipe, ironicamente, teve de se ocultar numa fortaleza dos templários nos arredores de Paris. Lá, bem sob seus olhos, jazia a resposta para as suas orações: sacos e sacos de moedas de ouro.
Felipe o Belo - Rei da França

         No dia 13 de outubro de 1307, uma operação sigilosa da guarda de Filipe deteve e encarcerou boa parte dos templários da França. As acusações eram pesadas e seguiam os moldes dos processos inquisitoriais daquela época: rejeição da cruz e de Jesus Cristo, beijos obscenos, sodomia e idolatria do Diabo (leia mais nas páginas 26 e 27). A tortura foi legitimada pelo rei. Os interrogatórios eram brutais: o cavaleiro Bernardo Vado, por exemplo, teve os pés tão queimados que seus ossos acabaram expostos.
         Em março de 1312, no Concílio de Vienne, o papa extinguiu a ordem. A pá de cal foi a execução de Jacques de Molay, o último grão-mestre dos templários. Os monges-guerreiros que sobreviveram se mantiveram fiéis à Igreja, vivendo no anonimato. Um detalhe curioso e mórbido: a praga rogada por Jacques pegou. Clemente morreu 42 dias depois de De Molay, e Filipe bateu as botas em 29 de novembro daquele mesmo ano. Terminava assim a história dos cavaleiros de Cristo. Terminava? Bem… ainda não.
Papa Clemente V
         Depois da blitz aos templários engendrada por Filipe, o Belo, alguns frades teriam reconstruído secretamente a ordem. E dezenas de sociedades secretas posteriores seriam filhotes do movimento. Será que isso é verdade? Quando fizeram essa pergunta ao historiador Malcolm Barber, ele apenas sorriu e respondeu com ironia: “Como escreveu Umberto Eco em O Pêndulo de Foucault, ‘os templários sempre estão por trás de tudo’ ”.

Mitos e lendas?
         As histórias mais fantásticas envolvendo os templários

SANTO GRAAL
         A Ordem do Templo teria sido fundada pelo Priorado do Sião e guardou o segredo da filha bastarda de Jesus Cristo. “Isso é uma invenção do anti-semita Pierre Plantard, em 1956”, afirma o historiador italiano Massimo Introvigne.

ARCA PERDIDA
         Os templários supostamente escavaram o Templo de Salomão e encontraram a Arca da Aliança. E ainda teriam descoberto os segredos dos primeiros maçons. “É tudo fantasia”, garante o especialista Alain Demurger.

TEUROS DO TEMPLO
         O Manuscrito Copper, encontrado na região do mar Morto, revelaria a localização dos tesouros do Templo de Salomão e teria sido descoberto pelos templários. “É lenda”, diz o historiador Kenneth Zuckerman.

MALDIÇÃO DE MOLAY
         A praga rogada por Jacques de Molay foi fulminante, matando o papa Clemente 5º e o rei Filipe, o Belo. Segundo algumas fontes, Clemente na verdade morreu de câncer, enquanto Filipe foi vítima de um derrame cerebral.

SEXTA-FEIRA 13
         A crença de que a “sexta-feira 13” é um dia de azar teria surgido em 13 de outubro de 1307, data na qual ocorreu a prisão dos templários na França. Nada a ver. A primeira menção à “sexta-feira 13” é recente, de 1898.

Para saber mais
• Os Templários: Uma Cavalaria Cristã na Idade Média - Alain Demurger, Difel, 2007.
• Templários: Os Cavaleiros de Deus - Edward Burman, Nova Era, 1997.

Por dentro da ordem do templo
QUEM ERA QUEM
         Os homens que defenderam Jerusalém em nome de Cristo.
Pader
         Os membros combatentes da ordem, apesar de sua formação de monge, eram quase sempre analfabetos e com pouco conhecimento de teologia ou das Escrituras. Por isso, as missas, confissões e outras cerimônias religiosas eram presididas por padres que viviam nos estabelecimentos templários.

Cavaleiro
         Geralmente de origem nobre, era o membro da ordem por excelência: tanto um guerreiro experiente, treinado para combater a cavalo com armadura pesada, quanto um monge ordenado, com votos de pobreza, obediência e castidade. Os cavaleiros templários nunca foram mais do que 10% dos integrantes.

Soldado
         Os templários também recrutavam soldados leigos, que não eram monges e, na Terra Santa, podiam até ser cristãos de origem síria. Nenhum deles era obrigado a seguir os votos de castidade dos cavaleiros – alguns, inclusive, eram casados. Havia também irmãos leigos que realizavam tarefas domésticas.

ENTRE O BEM E O MAL
         A história dos templários está associada a santos e demônios.

SANTO
        
São Bernardo foi o melhor amigo dos templários. Afinal, nos primórdios da ordem, eram muitos os que achavam que matar infiéis não era algo muito cristão. Ao publicar a defesa doutrinal do grupo, em 1135, Bernardo convenceu a todos da necessidade de fazer justiça pela espada. Sobrinho de um membro da ordem, foi cavaleiro antes de seguir carreira religiosa. Morreu em 1153 e virou santo 20 anos mais tarde.




DEMÔNIO


Um dos símbolos mais enigmáticos associados aos templários é o de Baphomet. “O nome vem de Maomé”, diz o historiador Malcolm Barber. Seria a encarnação do Diabo. Para outros estudiosos, contudo, representaria os santos dos primórdios da Igreja. Na Idade Média, prevaleceu a versão mais sinistra. Os templários empregariam a figura em seus ritos. Mas tudo não passa de uma lenda, jamais comprovada.


INFÂMIA SECULAR
A insígnia da Ordem do Templo – dois cavaleiros dividindo a mesma sela – acabou sendo usada para difamar os templários, acusados de homossexualidade e outras práticas mundanas nos anos finais da cavalaria. Na verdade, o emblema simbolizava humildade: a pobreza não permitiria uma montaria para cada cavaleiro.




FOLHA CORRIDA
Fundação: 1119, em Jerusalém.
Fundador: Hugo de Payns.
Integrantes: aproximadamente 15 mil homens no início do século 13.
Patrimônio: 9 mil propriedades espalhadas pela Europa no século 13 (US$ 160 bilhões em valores atuais*).
Extinção: 3 de abril de 1312.

* Cálculo da Associação do Templo de Cristo.

Cronologia
1048: Mercadores de Amalfi obtém permissão muçulmana para construir hospital em Jerusalém para peregrinos pobres ou doentes.
1070: +-:A Ordem de São João (Hospitalários) originou-se como um hospital beneditino para peregrinos nas vizinhanças do Santo Sepulcro e foi fundada por volta de 1070 por comerciantes de Amalfi.
1098: Reinos de Jerusalém, Condado de Edessa, Principado de Antioquia, Condado de Trípoli.
1100: Fundação da Ordem dos Hospitalários (Cavaleiros do Hospital de S. João de Jerusalém).
1113: Hospitalários adotam como principal finalidade luta por Jerusalém. Pascoal II aprova ordem fundada em Gerardo (+1121).
1113 Primeiro privilégio papal para o Hospital de S. João
1118: Fundação da Ordem dos Templários
1120: +-:Estatuto dos Hospitalários. Raimundo de Puy reorganiza instituição de 1048 como ordem religiosa votada a castidade, pobreza e proteção dos lugares santos. Calixto II aprova Ordem dos Hospitalários.
Circa 1120: Por iniciativa de Raimundo de Puy, Hospitalários transformam-se em ordem militar destinada a proteção do Santo Sepulcro.
1128: Fundação da Ordem Teutônica (Deutsches Ritter) ou do hospital para cruzados alemães em Jerusalém.
1142: O Krak dos Cavaleiros, em Acre, foi reconstruído na sua maior parte pelos Hospitalários, que o tiveram desde 1142 até à sua queda em 1291 quando tomado pelos Muçulmanos.
1148: Ataque a Damasco
1187: Batalha de Attin, queda de Jerusalém e mudança da sede para Acre
1187: (2/10): Melik el-Afdal (+1225), Sultão Ayubita do Egito, Síria e Mesopotâmia, filho de Saladino, vence Templários e Hospitalários em Tiberíade.
1190: Germânicos da Palestina, ajudados por uns poucos da pátria, fundam a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos e estabelecem hospital perto de Acre.
1191: Ricardo Coração de Leão toma S. João de Acre mas abandona-a antes do fim do ano por desentendimento com os restantes cruzados.
1192: Aconselhamento de Ricardo I de Inglaterra contra atacar Jerusalém.
1218: Tomam parte no cerco de Damietta que é tomada no fim do ano seguinte.
1229: Frederico II da Suábia obtém pacificamente Jerusalém do Sultão do Egito.
1246: Os muçulmanos retomam Jerusalém. O Grão-Mestre Guilherme de Chateuneuf é aprisionado.
1255: Gênova e os Hospitalários contra Veneza e os Templários disputam Acre (Tolemaida) entre si. 20 mil cristãos morrem numa batalha.
1270: A enérgica ação de S. Luis põe fim às lutas entre Templários e Hospitalários
1271: Juntam-se a Eduardo (mais tarde Eduardo I) na cruzada Inglesa.
1289: Envolvem-se na mal sucedida defesa de Trípoli.
1291: (5/4):Henrique II, rei de Chipre e de Jerusalém, Guilherme de Beaujeu, e Jean de Villiers (Grão-Mestre Hospitalário) são cercados junto com 800 cavaleiros, 12 mil infantes e 30 mil civis. Última praça. (15/4):Guilherme de Beaujeau faz uma sortida mas fracassa ao tentar incendiar maquinas de guerra. Perda de Acre; saída para Chipre.
1306: Iniciam a invasão de Rodes.
1310: Uma cruzada Hospitalária consolida o controlo de Rodes.
1311: A Sede estabelece-se em Rodes.
1312: (2/5) A propriedade dos Templários suprimidos é dada aos Hospitalários por Clemente V. 1374 Empreendem a defesa de Esmirna.
1377 Achaea entregue por cinco anos aos Hospitalários. 1378 Mestre Hospitalário Juan Fernandez de Heredia capturado na Albânia.
1402 Dezembro: Esmirna tomada por Tamerlão.
1440-1444: Mamelucos atacam Rodes.
1480: Cerco de Rodes pelos Turcos.
1522: de Julho a 18 de Dezembro: Cerco de Rodes pelos Turcos.
1523: 1 de Janeiro: Deixam Rodes.
1530 23 de Março: Recebem Malta e Trípoli de Carlos V.
1535: Carlos V participa na tomada de Tunis.
1540: Confisco da propriedade Hospitalária em Inglaterra.
1551: 14 de Agosto: Rendem-se aos Turcos em Trípoli.
1565: 19 de Maio a 8 de Setembro: Grande cerco de Malta pelos Turcos.
1571: Fazem parte da força naval papal na Batalha de Lepanto.
1614: Ataque dos Turcos a Malta.
1664: Atacam Argel.
1707: Ajudam a defender Oran.
1792: Confisco da propriedade Hospitalária em França.
1798: 13 de Junho: Malta rende-se a Napoleão.

fonte: http://bocasmacao.blogs.sapo.pt/19400.html
Fotos: captura internet


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