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terça-feira, 24 de outubro de 2017

OS INIMIGOS DO PAPA






Quem são os Arautos do Evangelho, organização católica formada a partir da TFP e liderada por um religioso que promove cultos à revelia do Vaticano e afirma que Francisco serve ao demônio

Débora Crivellaro - Publicado em 23.06.17 - 18h00 - 
Revista ISTO É
E
m uma sala, trajados com túnica medieval bege, ornada com desenho de uma grande cruz vermelha de cano longo e portando um rosário na cintura, vários homens ouvem atentamente a um senhor muito idoso, que fala com dificuldade, sentado numa cadeira de espaldar alto.
         Ele faz intervenções à leitura de outro homem, que está em pé, à sua direita, e recita dezenas de folhas, cujo conteúdo seria uma sessão de exorcismo. A seguir, algumas “declarações” dadas pelo demônio, por meio da voz da pessoa possuída, por intervenção de um sacerdote:“Dr. Plínio (Corrêa de Oliveira, fundador da Tradição, Família e Propriedade e morto em 1995) está sentado à esquerda da Virgem… Ele tem o controle sobre o mundo porque ele é a ordem do Universo…Dr. Plinio esmaga a minha cabeça: eu morro de inveja dele… Ele faz com que os trabalhos do monsenhor (João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho) dêem certo…” A leitura da sessão de exorcismo continua, com intervenções do monsenhor João (o idoso que lidera a reunião), muitas gargalhadas, questionamentos e observações.
Monsenhor João Clá fundador dos Arautos
do Evangelho
         Em dado momento, o diabo anuncia que a América do Norte irá desaparecer, por meio da ação de um meteorito. O sacerdote exorcista pergunta: “E a Europa, será atingida? E o Vaticano?” No que vem a revelação, seguida de interjeições de espanto: “O Vaticano já é meu, a cabeça do Vaticano é minha. Ele (o papa) é um estúpido, me obedece em tudo e ama a glória. Ele é uma alma estúpida, que me serve…” Um dos presentes ao encontro ainda questiona se esse “demônio” é capaz de entrar no Vaticano, ao que o monsenhor responde, imediatamente: “Ele é o demônio mais capaz que já existiu entre nós, pois está sendo obrigado a dizer.”
Dr. Plinio Corrêa fundador da TFP
         A leitura, em voz alta, e algo teatralizada, continua. “…Dr. Plinio está incentivando a morte do papa”, afirma o demônio. “Mas não vou deixar que ele morra…” O diabo anuncia, também, que Francisco irá morrer dentro do Vaticano, ao escorregar e bater a cabeça. E que seu sucessor não será “subordinado” a ele. Revela, inclusive o nome: o esloveno Frank Rodé, que já declarou que o pontífice argentino é muito “de esquerda”.
         A reunião que descreveu a sessão de exorcismo durou mais de duas horas e foi gravada em vídeo. Ela aconteceu no início do ano passado, mas só foi divulgada há duas semanas, por meio do vaticanista italiano Andrea Tornieli, do blog “Vatican Insider”, pertencente ao jornal “La Stampa”.
`Papa Francisco designa Cardeal brasileiro
para investigar as ações dos Arautos do Evangelho
         A veiculação já causou estragos. Monsenhor João, antes intocável, divulgou sua saída do comando do grupo, que está presente em dezenas de países, mas cuja sede é no Brasil. E a Santa Sé designou o cardeal brasileiro João Braz de Aviz, atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, para investigar os Arautos, que, pasmem, são uma sociedade de vida apostólica. Reconhecida oficialmente pelo Vaticano. Eles também são suspeito de promover culto a Plínio Correa de Oliveira, sua mãe, Dona Lucilia, e ao próprio monsenhor João.
         A Sociedade Clerical de Vida Apostólica Vergo Flos Carmeli, mais conhecida como os “Arautos do Evangelho”, é uma dissidência da Tradição, Família e Propriedade (TFP), fundada pelo advogado Plínio Corrêa de Oliveira (1908-1995) em 1960.
TFP
         Ela foi criada pelo monsenhor João Scornamiglio Clá Dias, secretário particular de Corrêa, quatro anos após a sua morte, como resultado de brigas com os fundadores da TFP. Ao contrário da primeira organização, que tinha um perfil ultra-direita, mas uma agenda mais política, que costumava lutar contra o comunismo, o aborto e o divórcio, entre outros temas, os Arautos se tornaram uma sociedade mais voltada a assuntos religiosos.
         Tanto que tinham como líder um monsenhor. E postularam o reconhecimento do Vaticano, no pontificado de João Paulo II (1920-2005) para avalizar sua identidade. Esse mesmo grupo decretou que o papa Francisco está possuído pelo demônio.
         Que a ala conservadora franze a testa para o argentino Bergoglio já se sabe há muito tempo. Mas uma coisa é uma indisposição intelectual. Outra é o que se viu no vídeo da sociedade liderada por monsenhor João. O desconforto é tanto que há um pacto de silêncio entre os católicos. Procuradas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Nunciatura Apostólica se recusaram a dar declarações sobre o tema. “Esse caso é confuso, não está claro nem de um lado, nem de outro. Falta bastante conhecimento de fato”, diz um teólogo que prefere não se identificar.
Arautos do Evangelho presentes em 78 países
         O golpe logo foi sentido na sede dos Arautos, em São Paulo. O superior geral monsenhor João Clá resolveu renunciar ao cargo na sexta-feira 2 de junho, mas anunciou a decisão na segunda-feira 12. A alegação é que, ao chegar aos 77 anos, lhe pareceu justo deixar sua função, a fim de que um filho seu (um padre da instituição) “possa conduzir a Obra à perfeição desejada por Nossa Senhora”. Após a saída de seu líder, os Arautos divulgaram uma nota desmentindo as informações divulgadas pelo italiano Andrea Tornieli e desqualificando o vaticanista, um dos mais prestigiados do mundo.

Os soldados de Cristo

Sociedade Clerical de Vida Apostólica Vergo Flos Carmeli: Arautos do Evangelho
Fundador: Monsenhor João Scornamiglo Clá Dias
Fundada: oficialmente em 2001, com a aprovação do papa João Paulo II
Elevada à sociedade de vida apostólica em 2009, por Bento XVI
Está presente em: 78 países
Tem: 200 sacerdotes
Composta: de 2820 homens e 1260 mulheres, além de 50.557 famílias e membros solidários
         Os arautos usam uniforme de estilo militar medieval, túnica bege, ornada com desenho de uma grande cruz de cano longo e um rosário na cintura



in: https://istoe.com.br/os-inimigos-do-papa/

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

TEMPLÁRIOS: A IRMANDADE DE CRISTO

Eles foram os monges prediletos de santos e papas. Mas acabaram acusados de bruxaria e sodomia. Conheça os Cavaleiros do Templo, a sociedade secreta mais badalada e poderosa da Idade Média
                                      
                              Da Redação da Revista Superinteressante access_time 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 31 out 2008, 22h00 chat_bubble_outline more_horiz
Por Álvaro Oppermann

N
o dia 18 de março de 1314, Paris amanheceu nervosa. Jacques de Molay, grão-mestre da Ordem dos Templários, iria para a fogueira. O condenado à morte pediu duas coisas: que atassem suas mãos juntas ao peito, em posição de oração, e que estivesse voltado para a Catedral de Notre Dame. No caminho, parou e fitou os dois homens que o haviam condenado: o rei Filipe, o Belo, e o papa Clemente 5º. Rogou-lhes uma praga: “Antes que decorra um ano, eu os convoco a comparecer perante o tribunal de Deus. Malditos!” Depois disso, calou-se e foi queimado vivo.
          As chamas que consumiram De Molay também terminaram com uma época, da qual o grão-mestre foi o derradeiro símbolo: a das grandes sociedades secretas da Idade Média. Nenhuma foi tão poderosa quanto a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – nome completo dos templários. “Enquanto o clero e a nobreza se engalfinhavam na luta pelo poder, os templários, sem dever obediência senão ao papa, desfrutavam de uma independência sem par”, diz o historiador britânico Malcolm Barber, autor de A History of the Order of the Temple (“Uma História da Ordem do Templo”, inédito no Brasil).


TROPA DE ELITE
         A ordem foi fundada em Jerusalém, no ano de 1119. Seu propósito era dar proteção aos peregrinos cristãos na Terra Santa. A cidade tinha sido conquistada pelos cruzados em 1099, mas chegar até lá continuava sendo um problemão. Ela era praticamente uma ilha, cercada de muçulmanos por todos os lados. A solução, proposta pelo cavaleiro francês Hugo de Payns, agradou ao rei de Jerusalém, Balduíno 2º: criar uma força militar subordinada à Igreja. A idéia era inédita. Até então, existiam monges de um lado e cavaleiros de outro.

“Payns inventou uma nova figura, a do monge-cavaleiro”, diz Marion Melville, autora de La Vida Secreta de los Templarios (sem tradução para português). O exército seria formado por frades bons de espada, que fariam, além dos votos de pobreza, castidade e obediência, um quarto juramento: o de defender os lugares sagrados da cristandade e, se necessário, liquidar os infiéis. Balduíno alojou-os no local onde outrora fora construído o mítico Templo de Salomão. Daí o nome do grupo: templários.
         Em 1129, a ordem recebeu aprovação do papa no Concílio de Troyes. Em 1139, veio a consagração definitiva: uma nova bula papal isentava os templários da obediência às leis locais. Eles ficariam submetidos, dali em diante, somente ao sumo pontífice. Os Cavaleiros do Templo admitiam excomungados em suas igrejas (o que era uma senhora blasfêmia para a mentalidade religiosa da época). Certa vez, um grupo de templários interrompeu, entre risos e com uma revoada de flechas, uma missa na Basílica de Jerusalém. O padre era de outra ordem, a dos Hospitalários, e entre as duas havia uma rixa histórica. “Apesar da bravura reconhecida, os templários muitas vezes foram censurados por seu orgulho e arrogância”, afirma o historiador francês Alain Demurger no livro Os Templários: Uma Cavalaria Cristã na Idade Média.
         Os Cavaleiros do Templo, também, eram proibidos de se confessar a outros que não fossem os capelães templários. Igualmente, o livro da Regra – que tinha sido escrita por ninguém menos que são Bernardo de Claraval – era restrito ao alto escalão da ordem (leia mais na pág. 27). Os outros tinham de sabê-la de cor. Era uma forma de preservá-la, caso caísse em mãos erradas. Porém, entre cochichos, se especulava que a Regra continha artigos secretos cifrados, cuja interpretação dava posse de conhecimentos esotéricos, como a fonte da juventude ou a transmutação de metais. Com o crescimento da ordem, os templários não pararam mais de receber doações, e em pouco tempo estavam administrando uma gigantesca fortuna espalhada por toda a Europa, composta de peças de ouro, prata, castelos, fortalezas, moinhos, videiras, pastos e terras aráveis. O grupo emitia cartas de crédito: o peregrino à Terra Santa depositava uma determinada soma na Europa, que podia ser resgatada quando chegasse a Jerusalém. “O Templo de Londres foi chamado de precursor medieval do Banco da Inglaterra”, escreve o historiador britânico Edward Burman no livro Templários: Os Cavaleiros de Deus. Isso fez crescer o olho de muitos novos adeptos.

         O teólogo inglês João de Salisbury, em 1179, se perguntava se os cavaleiros não tinham cedido às ambições terrenas. Essa suspeita se tornou certeza em diversos casos. Em 1291, a viúva de um nobre templário foi expulsa de sua propriedade na Escócia pelo chefe da ordem no país, Brian de Jay. Segundo o contrato firmado pelo marido, a posse das terras voltaria à família depois de seu falecimento. Maliciosamente, Brian recusou-se a devolvê-las. E o pior: ordenou que seus homens arrombassem a casa da viúva. Como ela se agarrou à porta, em completo desespero, teve os dedos decepados pela espada de um cavaleiro.
         Enquanto os templários seguraram as pontas na Palestina, todos fizeram vista grossa aos seus desmandos. Porém, quando o jogo na Terra Santa virou, e os muçulmanos gradualmente reconquistaram a região – processo que culminou com a expulsão dos cristãos do solo sagrado em 1303 –, a animosidade contra a ordem explodiu. “A expulsão foi particularmente séria para os templários, cujo prestígio e função se identificavam com a defesa dos lugares da vida, morte e ressurreição de Cristo”, diz Malcolm Barber. Na Alemanha, “beber como um templário” virou sinônimo de bebedeiras, e “Tempelhaus” (a Casa do Templo), lugar de farra e até prostituição.

OS EXPOSTOS
         A ressaca pela perda da Terra Santa, porém, não foi o fundo do poço para os templários. A aliança com o papa, que se mostrava tão útil desde o século 12, revelou-se uma faca de dois gumes. Em 1305, o novo sumo pontífice, Clemente 5º, se tornou aliado do rei da França, Filipe, o Belo. E os dois conspiraram para a destruição da Ordem do Templo. “O rei precisava de dinheiro para financiar seu aparato bélico”, diz Edward Burman. Em 1306, Filipe desvalorizou a moeda francesa. Os parisienses ficaram furiosos e saquearam a cidade. A coisa foi tão feia que Filipe, ironicamente, teve de se ocultar numa fortaleza dos templários nos arredores de Paris. Lá, bem sob seus olhos, jazia a resposta para as suas orações: sacos e sacos de moedas de ouro.
Felipe o Belo - Rei da França

         No dia 13 de outubro de 1307, uma operação sigilosa da guarda de Filipe deteve e encarcerou boa parte dos templários da França. As acusações eram pesadas e seguiam os moldes dos processos inquisitoriais daquela época: rejeição da cruz e de Jesus Cristo, beijos obscenos, sodomia e idolatria do Diabo (leia mais nas páginas 26 e 27). A tortura foi legitimada pelo rei. Os interrogatórios eram brutais: o cavaleiro Bernardo Vado, por exemplo, teve os pés tão queimados que seus ossos acabaram expostos.
         Em março de 1312, no Concílio de Vienne, o papa extinguiu a ordem. A pá de cal foi a execução de Jacques de Molay, o último grão-mestre dos templários. Os monges-guerreiros que sobreviveram se mantiveram fiéis à Igreja, vivendo no anonimato. Um detalhe curioso e mórbido: a praga rogada por Jacques pegou. Clemente morreu 42 dias depois de De Molay, e Filipe bateu as botas em 29 de novembro daquele mesmo ano. Terminava assim a história dos cavaleiros de Cristo. Terminava? Bem… ainda não.
Papa Clemente V
         Depois da blitz aos templários engendrada por Filipe, o Belo, alguns frades teriam reconstruído secretamente a ordem. E dezenas de sociedades secretas posteriores seriam filhotes do movimento. Será que isso é verdade? Quando fizeram essa pergunta ao historiador Malcolm Barber, ele apenas sorriu e respondeu com ironia: “Como escreveu Umberto Eco em O Pêndulo de Foucault, ‘os templários sempre estão por trás de tudo’ ”.

Mitos e lendas?
         As histórias mais fantásticas envolvendo os templários

SANTO GRAAL
         A Ordem do Templo teria sido fundada pelo Priorado do Sião e guardou o segredo da filha bastarda de Jesus Cristo. “Isso é uma invenção do anti-semita Pierre Plantard, em 1956”, afirma o historiador italiano Massimo Introvigne.

ARCA PERDIDA
         Os templários supostamente escavaram o Templo de Salomão e encontraram a Arca da Aliança. E ainda teriam descoberto os segredos dos primeiros maçons. “É tudo fantasia”, garante o especialista Alain Demurger.

TEUROS DO TEMPLO
         O Manuscrito Copper, encontrado na região do mar Morto, revelaria a localização dos tesouros do Templo de Salomão e teria sido descoberto pelos templários. “É lenda”, diz o historiador Kenneth Zuckerman.

MALDIÇÃO DE MOLAY
         A praga rogada por Jacques de Molay foi fulminante, matando o papa Clemente 5º e o rei Filipe, o Belo. Segundo algumas fontes, Clemente na verdade morreu de câncer, enquanto Filipe foi vítima de um derrame cerebral.

SEXTA-FEIRA 13
         A crença de que a “sexta-feira 13” é um dia de azar teria surgido em 13 de outubro de 1307, data na qual ocorreu a prisão dos templários na França. Nada a ver. A primeira menção à “sexta-feira 13” é recente, de 1898.

Para saber mais
• Os Templários: Uma Cavalaria Cristã na Idade Média - Alain Demurger, Difel, 2007.
• Templários: Os Cavaleiros de Deus - Edward Burman, Nova Era, 1997.

Por dentro da ordem do templo
QUEM ERA QUEM
         Os homens que defenderam Jerusalém em nome de Cristo.
Pader
         Os membros combatentes da ordem, apesar de sua formação de monge, eram quase sempre analfabetos e com pouco conhecimento de teologia ou das Escrituras. Por isso, as missas, confissões e outras cerimônias religiosas eram presididas por padres que viviam nos estabelecimentos templários.

Cavaleiro
         Geralmente de origem nobre, era o membro da ordem por excelência: tanto um guerreiro experiente, treinado para combater a cavalo com armadura pesada, quanto um monge ordenado, com votos de pobreza, obediência e castidade. Os cavaleiros templários nunca foram mais do que 10% dos integrantes.

Soldado
         Os templários também recrutavam soldados leigos, que não eram monges e, na Terra Santa, podiam até ser cristãos de origem síria. Nenhum deles era obrigado a seguir os votos de castidade dos cavaleiros – alguns, inclusive, eram casados. Havia também irmãos leigos que realizavam tarefas domésticas.

ENTRE O BEM E O MAL
         A história dos templários está associada a santos e demônios.

SANTO
        
São Bernardo foi o melhor amigo dos templários. Afinal, nos primórdios da ordem, eram muitos os que achavam que matar infiéis não era algo muito cristão. Ao publicar a defesa doutrinal do grupo, em 1135, Bernardo convenceu a todos da necessidade de fazer justiça pela espada. Sobrinho de um membro da ordem, foi cavaleiro antes de seguir carreira religiosa. Morreu em 1153 e virou santo 20 anos mais tarde.




DEMÔNIO


Um dos símbolos mais enigmáticos associados aos templários é o de Baphomet. “O nome vem de Maomé”, diz o historiador Malcolm Barber. Seria a encarnação do Diabo. Para outros estudiosos, contudo, representaria os santos dos primórdios da Igreja. Na Idade Média, prevaleceu a versão mais sinistra. Os templários empregariam a figura em seus ritos. Mas tudo não passa de uma lenda, jamais comprovada.


INFÂMIA SECULAR
A insígnia da Ordem do Templo – dois cavaleiros dividindo a mesma sela – acabou sendo usada para difamar os templários, acusados de homossexualidade e outras práticas mundanas nos anos finais da cavalaria. Na verdade, o emblema simbolizava humildade: a pobreza não permitiria uma montaria para cada cavaleiro.




FOLHA CORRIDA
Fundação: 1119, em Jerusalém.
Fundador: Hugo de Payns.
Integrantes: aproximadamente 15 mil homens no início do século 13.
Patrimônio: 9 mil propriedades espalhadas pela Europa no século 13 (US$ 160 bilhões em valores atuais*).
Extinção: 3 de abril de 1312.

* Cálculo da Associação do Templo de Cristo.

Cronologia
1048: Mercadores de Amalfi obtém permissão muçulmana para construir hospital em Jerusalém para peregrinos pobres ou doentes.
1070: +-:A Ordem de São João (Hospitalários) originou-se como um hospital beneditino para peregrinos nas vizinhanças do Santo Sepulcro e foi fundada por volta de 1070 por comerciantes de Amalfi.
1098: Reinos de Jerusalém, Condado de Edessa, Principado de Antioquia, Condado de Trípoli.
1100: Fundação da Ordem dos Hospitalários (Cavaleiros do Hospital de S. João de Jerusalém).
1113: Hospitalários adotam como principal finalidade luta por Jerusalém. Pascoal II aprova ordem fundada em Gerardo (+1121).
1113 Primeiro privilégio papal para o Hospital de S. João
1118: Fundação da Ordem dos Templários
1120: +-:Estatuto dos Hospitalários. Raimundo de Puy reorganiza instituição de 1048 como ordem religiosa votada a castidade, pobreza e proteção dos lugares santos. Calixto II aprova Ordem dos Hospitalários.
Circa 1120: Por iniciativa de Raimundo de Puy, Hospitalários transformam-se em ordem militar destinada a proteção do Santo Sepulcro.
1128: Fundação da Ordem Teutônica (Deutsches Ritter) ou do hospital para cruzados alemães em Jerusalém.
1142: O Krak dos Cavaleiros, em Acre, foi reconstruído na sua maior parte pelos Hospitalários, que o tiveram desde 1142 até à sua queda em 1291 quando tomado pelos Muçulmanos.
1148: Ataque a Damasco
1187: Batalha de Attin, queda de Jerusalém e mudança da sede para Acre
1187: (2/10): Melik el-Afdal (+1225), Sultão Ayubita do Egito, Síria e Mesopotâmia, filho de Saladino, vence Templários e Hospitalários em Tiberíade.
1190: Germânicos da Palestina, ajudados por uns poucos da pátria, fundam a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos e estabelecem hospital perto de Acre.
1191: Ricardo Coração de Leão toma S. João de Acre mas abandona-a antes do fim do ano por desentendimento com os restantes cruzados.
1192: Aconselhamento de Ricardo I de Inglaterra contra atacar Jerusalém.
1218: Tomam parte no cerco de Damietta que é tomada no fim do ano seguinte.
1229: Frederico II da Suábia obtém pacificamente Jerusalém do Sultão do Egito.
1246: Os muçulmanos retomam Jerusalém. O Grão-Mestre Guilherme de Chateuneuf é aprisionado.
1255: Gênova e os Hospitalários contra Veneza e os Templários disputam Acre (Tolemaida) entre si. 20 mil cristãos morrem numa batalha.
1270: A enérgica ação de S. Luis põe fim às lutas entre Templários e Hospitalários
1271: Juntam-se a Eduardo (mais tarde Eduardo I) na cruzada Inglesa.
1289: Envolvem-se na mal sucedida defesa de Trípoli.
1291: (5/4):Henrique II, rei de Chipre e de Jerusalém, Guilherme de Beaujeu, e Jean de Villiers (Grão-Mestre Hospitalário) são cercados junto com 800 cavaleiros, 12 mil infantes e 30 mil civis. Última praça. (15/4):Guilherme de Beaujeau faz uma sortida mas fracassa ao tentar incendiar maquinas de guerra. Perda de Acre; saída para Chipre.
1306: Iniciam a invasão de Rodes.
1310: Uma cruzada Hospitalária consolida o controlo de Rodes.
1311: A Sede estabelece-se em Rodes.
1312: (2/5) A propriedade dos Templários suprimidos é dada aos Hospitalários por Clemente V. 1374 Empreendem a defesa de Esmirna.
1377 Achaea entregue por cinco anos aos Hospitalários. 1378 Mestre Hospitalário Juan Fernandez de Heredia capturado na Albânia.
1402 Dezembro: Esmirna tomada por Tamerlão.
1440-1444: Mamelucos atacam Rodes.
1480: Cerco de Rodes pelos Turcos.
1522: de Julho a 18 de Dezembro: Cerco de Rodes pelos Turcos.
1523: 1 de Janeiro: Deixam Rodes.
1530 23 de Março: Recebem Malta e Trípoli de Carlos V.
1535: Carlos V participa na tomada de Tunis.
1540: Confisco da propriedade Hospitalária em Inglaterra.
1551: 14 de Agosto: Rendem-se aos Turcos em Trípoli.
1565: 19 de Maio a 8 de Setembro: Grande cerco de Malta pelos Turcos.
1571: Fazem parte da força naval papal na Batalha de Lepanto.
1614: Ataque dos Turcos a Malta.
1664: Atacam Argel.
1707: Ajudam a defender Oran.
1792: Confisco da propriedade Hospitalária em França.
1798: 13 de Junho: Malta rende-se a Napoleão.

fonte: http://bocasmacao.blogs.sapo.pt/19400.html
Fotos: captura internet


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

MAÇOM BRASILEIRO - GRÃO-MESTRE PROVINCIAL DA INGLATERRA

O


 brasileiro José Hipólito da Costa Pereira Furtado de Mendonça foi nomeado Grão-Mestre Provincial na Inglaterra em 1813. José Hipóiyto nasceu em 1774, na Colônia de Sacramento, uma cidade do Rio da Prata, hoje Uruguai, mas na época território brasileiro. Era advogado, filósofo, naturalista e um Franco-maçom entusiasta, tendo sido iniciado em uma Loja na Filadélfia, Estados Unidos da América do Norte.
      Através de suas ligações com Londres foi arrumando um Tratado de Amizade com as Lojas de Portugal, muito bem aceito pela Grande Loja Unida da Inglaterra.
      Ele foi Grão-Mestre Provincial do Condado de Rutland que é um dos 14 condados do estado americano de Vermont. A sede e maior cidade do condado é Rutland. Foi fundado em 1781.
José Hipólito da Costa Pereira
Furtado de Mendonça
 
      Além de Grão-Mestre Provincial ele era membro do Conselho de Assuntos Gerais e Presidente do Conselho de Finanças. Além disso Hipólito ocupou altos postos no Supremo Grande Capítulo e nos Cavaleiros Templários. Ele foi sem sombra de dúvidas, um homem admirável, recebendo da Grande Loja uma mensagem em pergaminho com iluminuras. Morreu em Londres, em 1823.
      “O Dia Nacional da Imprensa no Brasil”, a partir da lei 9.831, assinada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 13 de setembro de 1999, é comemorado em 1º de junho, quando começou a circular, em Londres, o Correio Braziliense ou Armazém Literário (1808-1822). Fundado por Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, este mensário é considerado o primeiro jornal brasileiro.
      Nosso primeiro periódico foi impresso na Inglaterra devido à Censura Régia, que proibia a presença de tipografias na Colônia. Qualquer material impresso, que não tivesse a sua aprovação, era considerado de caráter subversivo. O desrespeito a essa lei, imposta pela Coroa Portuguesa, em 1747, trazia, de alguma forma, resultados funestos a qualquer indivíduo que se atrevesse a descumpri-la. Um exemplo de perseguição foi o que ocorreu, em 1747, no Rio de Janeiro, com Antônio Isidoro da Fonseca, responsável pela impressão do primeiro folheto no Brasil, Relação da Entrada: o mesmo teve, como punição, sua tipografia confiscada e foi obrigado a retornar para Portugal.

      O reconhecimento da obra
      A lei 9.831 foi um projeto de autoria do deputado Nelson Marquezan, do PSDB gaúcho. Anterior a esta lei, comemorava-se, desde o Estado Novo (1937-1945) criado por Getúlio Vargas (1882-1954), o dia 10 de setembro, data do surgimento do jornal Gazeta do Rio de Janeiro, criado, em 1808, após a chegada do príncipe regente dom João e a Corte Portuguesa no Brasil. Esse periódico, dirigido por Frei Tibúrcio da Rocha, era órgão oficial do governo português e proibia a livre expressão dos brasileiros, divulgando apenas notícias de interesse do império lusitano. O caráter de nacionalidade e a preocupação com os problemas do Brasil garantem ao Correio Braziliense, embora editado em Londres, a posição legítima de ser o primeiro jornal brasileiro impresso sem censura e independente.
      O Correio Braziliense somou, durante o período em que circulou, 175 edições de 80 a 140 páginas cada volume, constituindo-se, de acordo com Raul Quevedo (1926-2009), em seu livro Em Nome da Liberdade / A saga de Hipólito da Costa, editado em 1997 pela UFPEL, em verdadeira enciclopédia, na qual seu diretor, redator e revisor registrou, em português, os fatos mais importantes no aspecto sociopolítico, cultural e econômico que ocorreram naquele período da história das Américas e da Europa.
Correio Braziliense 1808
Leia o início do artigo
      No Brasil, circulou clandestino, durante um período, devido a seu conteúdo, que foi considerado subversivo pela Censura Régia de Portugal. O mensário de Hipólito José da Costa tinha como subtítulo Armazém Literário graças à riqueza e variedade de informações que trazia aos leitores. As ideias liberais do seu fundador, propagadas no Correio Braziliense, influenciaram a elite política, que foi responsável, em 1822, pela independência do Brasil.
      Após longa e persistente luta de associações jornalísticas, intelectuais e profissionais ligados à área, liderados pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI), mudou-se a data comemorativa do surgimento da Imprensa no Brasil para o dia “1º de junho”, prevalecendo o argumento do caráter de nacionalidade do Correio Braziliense, mesmo sendo editado fora do Brasil. O Rio Grande do Sul foi vanguarda nessa luta, desde os anos 70, visando ao reconhecimento de Hipólito José da Costa e sua obra.
      Nessa trajetória foi fundamental o empenho do historiador pelotense Claudio Moreira Bento (1931 - 2012) e do ilustre jornalista Raul Quevedo (1926-2009).       A presença da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), sob a liderança àquela época do saudoso professor, jornalista e político Alberto André (1915-2001), o apoio incondicional da Loja Maçônica Província de São Pedro e da Fundação Assis Chateaubriand foram decisivos durante este processo.

Homenagens no Rio Grande do Sul
      Ocorreram no Rio Grande do Sul vários eventos, invocando o “bicentenário de nascimento” (1974) e o “sesquicentenário de morte” (1973) do patrono da imprensa no Brasil. Importante registrar que, nesse período, o historiador e arquiteto Francisco Riopardense de Macedo (1921-2007) venceu o concurso da melhor monografia sobre a vida do patrono da imprensa brasileira: Hipólito da Costa e o Universo da Liberdade.
     
Fachada do Museu da Comunicação
Hipólito José da Costa - Musecom em Porto Alegre - RS
Outro acontecimento importante na área cultural do estado foi a criação do
Museu da Comunicação Social Hipólito José da Costa (Musecom) em 10/09/1974, na capital gaúcha. O idealizador foi o jornalista e primeiro diretor da Instituição Sérgio Dillenburg, durante o período das comemorações do “bicentenário do nascimento” do patrono da imprensa no Brasil. A criação desta importante instituição cultural, que guarda, preserva e divulga a “Memória da Comunicação Social do Rio Grande do Sul”, teve o incentivo e total apoio da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), na época, presidida pelo jornalista Alberto André (1915-2000). Atualmente, o museu está sob a direção do jornalista e arquivista Yuri Victorino. Neste ano de 2015 completará 41 anos de relevantes trabalhos em prol da cultura e sua dinamização, a partir de seu valioso acervo, contribuindo, desta forma, na produção cultural para o engrandecimento do nosso estado.

Na inauguração de Brasília, Hipólito da Costa é lembrado
      Assis Chateaubriand (1892-1968), um dos grandes nomes da comunicação no Brasil, considerava Hipólito José da Costa uma referência cultural, um verdadeiro exemplo de cidadão cosmopolita. Em homenagem ao mesmo, reeditou em Brasília, em 21/04/1960, data inaugural da nova capital, o Correio Braziliense, mantendo a grafia com “Z” como na época em que foi fundado, em Londres, na Inglaterra. A tradição oral registra que Assis Chateaubriand teria feito a seguinte aposta com Juscelino Kubitschek: caso a nova capital, Brasília, fosse inaugurada no prazo previsto, ele reeditaria o Correio Braziliense.
      Após a permissão dos descendentes de Hipólito José da Costa, que viviam na Inglaterra, Chateaubriand cumpriu sua promessa, reeditando o jornal que circula até os dias atuais. A admiração do criador dos Diários e Emissoras Associados, Assis Chateaubriand, era tão intensa que, em 1942, prestou uma homenagem a Hipólito da Costa, batizando um avião, em São Paulo, com o nome do mesmo. O patrono da imprensa no Brasil já havia proposto a mudança da capital para o interior do Brasil em seu mensário. Essa ideia se realizou, mais tarde, com a inauguração de Brasília em 21/04/1960.

O pioneiro a criticar a escravidão
      No Correio Braziliense, Hipólito José da Costa pregou de forma pioneira a abolição gradual dos escravos e a implantação de mão de obra imigrante, em um período de comércio intenso de escravizados. O lucro financeiro, que esta atividade propiciava aos comerciantes desse nefando mercado, era grande. Hipólito José da Costa iniciou suas críticas à escravidão antes da Inglaterra, líder da Revolução Industrial, por interesse próprio, proibir o trafico negreiro (1831), realizado pelas embarcações conhecidas como tumbeiros. Nestas, muitas vezes, mais da metade dos escravizados transportados, como mercadorias a serem vendidas, morria antes de desembarcar no seu destino e seus corpos eram jogados no mar (Grande Calunga).
      Hipólito José da Costa considerava a escravidão um ato desumano e bárbaro. Esse posicionamento, em relação à escravidão, encontra-se registrado, no seu jornal, a partir de março 1814, anos antes da abolição dos escravos ocorrer no Brasil. O dia 13 de maio, que marcou oficialmente, em 1888, o final da escravidão, em nosso país, ocorreu sem um projeto de inclusão social para uma grande parcela da população. Diante de seu despreparo, o negro foi jogado à miséria e à invisibilidade social, reforçada por uma historiografia oficial que, durante muito tempo, a partir da visão das elites, soterrou nos porões da memória nacional a dívida histórica com a população afrodescendente deste país. Em seu Correio Braziliense, em março de 1814, Hipólito José da Costa comenta sobre a escravidão:
Correio Braziliense 1817
“Os melhoramentos do nosso século produzirão uma gradual e prudente reforma neste ramo que, marcando os progressos de nossa civilização serviria de grande honra aos legisladores, que se ocupassem desta matéria.”
      O patrono da nossa imprensa considerou estranho que, no Brasil, após sua independência (1822), os escritores permanecessem em silêncio quanto à permanência do sistema escravocrata. Nas páginas do primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense, editado por ele, em novembro de 1822, fez a seguinte crítica:
“É ideia contraditória querer uma nação livre, e se o consegue ser, blazonar, em toda a parte e em todos os tempos, de uma liberdade, mantendo dentro de si a escravidão, isto é, o idêntico costume oposto a liberdade. Os brasileiros, portanto, devem escolher entre essas duas alternativas: ou eles nunca hão de ser um povo livre, ou hão de resolver-se a não ter consigo a escravidão.”
      Em 1823, nosso imperador dissolveu nossa primeira Assembleia Constituinte. Sua atitude despótica e centralizadora repercutiu em crise e descontentamento em segmentos sociais que esperavam uma maior participação política nas decisões que envolvessem interesses da nação. O imperador do Brasil centralizou o poder, quando outorgou a nossa primeira Constituição em 1824. O Poder Moderador, representado pelo próprio imperador, assegurava-lhe a “última palavra”. A participação política era garantida pelo voto censitário, ou seja, votava quem tinha renda e propriedade, alijando desta forma a maioria da população brasileira do processo político.
      Hipólito José da Costa chegou a escrever um anteprojeto para elaboração da nossa primeira Carta Magna que não foi considerado pelo imperador do Brasil. “O patrono da imprensa no Brasil” era um monarquista constitucional e defendia a ideia de um único império português, no qual o Brasil seria tratado de forma igualitária a Portugal. Quando percebeu que seria inviável seu ideal, aderiu à causa da independência brasileira, em junho, de 1822.
      Infelizmente, a monarquia despótica que Hipólito José da Costa condenou de forma incisiva no seu Correio Braziliense, mesmo após nossa independência, foi exercida de forma ostensiva. As conseqüências desse episódio, somado a outros fatores, irão resultar na abdicação do nosso imperador, em abril de 1831, a favor de seu filho, Pedro de Alcântara, que contava com cinco anos de idade, instituindo-se, devido a sua minoridade para governar, o período de Regências, no Brasil, que durou até 1840, quando iniciou o Segundo Reinado (1840-1889).
      O pensamento de Hipólito José da Costa, difundido por meio dos artigos do Correio Braziliense, é exemplo da capacidade de discernimento e compreensão que tinha da realidade brasileira. Com sua inteligência e bagagem cultural, percebia o nível de atraso que se encontravam vários setores da sociedade brasileira, devido à péssima administração pública, à corrupção e a governantes da época.

O início de uma grande jornada
      Quando, em 1777, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Santo Ildefonso, a Colônia do Sacramento, às margens do Rio da Prata, hoje, no Uruguai, passou a pertencer à Espanha. Diante desse fato, a família de Hipólito da Costa se mudou para a região que mais tarde deu origem à cidade de Pelotas. O patrono da imprensa no Brasil era filho de Félix da Costa Furtado de Mendonça, militar de Saquarema (RJ), e de Ana Josefa Pereira que era natural da Colônia do Sacramento (Uruguai).
      Hipólito José da Costa contava com 18 anos quando partiu para Portugal para aprimorar seus estudos. Em 1798, tornou-se o primeiro gaúcho bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra. Nesta universidade foi considerado aluno especial pela bagagem cultural que possuía ao chegar a Portugal. Sua educação primorosa foi ministrada pelo seu tio, Pedro Pereira Fernandes Mesquita, alcunhado de “Padre Doutor”, que o educou desde a infância. Ainda no ano de 1798, ele foi enviado aos Estados Unidos pelo Rodrigo de Souza Coutinho, o Conde de Linhares, como Encarregado de Negócios de Portugal, tendo ingressado secretamente na Maçonaria, em Filadélfia, naquele período. Em 1800, no seu retorno a Portugal, Hipólito da Costa foi nomeado Diretor Literário da Junta da Imprensa Régia.  Ainda, naquele ano, publicou duas obras de caráter científico: “Descripção da arvore assucareira, e da sua utilidade e cultura!” (Lisboa) “Descripção de huma maquina para tocar a bomba á bordo dos navios sem o trabalho de homens” (Lisboa), resultado de suas pesquisas investigativas.

O contato com a maçonaria e a sua prisão
      As experiências que vivenciou na América do Norte possibilitaram-lhe desenvolver um jornalismo científico. Suas anotações, encontradas na biblioteca de Évora, em 1955, foram reunidas no livro Diário de minha viagem à Filadélfia (1798-1799), cujo prefácio foi escrito por Alceu Amoroso Lima. Em 1802, viajou à Inglaterra para comprar material tipográfico e livros, porém, sua missão secreta, como maçom, que fora iniciado, em 12 de março de 1799, na Loja George Washington, era efetivar a aproximação das “Lojas Inglesas” com a “Maçonaria Portuguesa”. Quando retornou a Portugal, foi preso pelo chefe de polícia Pina Manique, sendo entregue ao tribunal da Inquisição sob acusação de ser “pedreiro livre” (maçom).
      Depois de sofrer maus tratos, durante três anos, realizou espetacular fuga com o auxílio da maçonaria, encontrando abrigo e proteção na liberal Inglaterra do século 19. Na Corte britânica, contou com o auxilio do seu amigo duque de Sussex, filho do rei Jorge III, que o apresentou à nobre sociedade inglesa. Em junho de 1808, em Londres, na tipografia do sr. W. Lewis, na Rua Paternoster-Row, começou a circular o seu maior legado, o Correio Braziliense, reconhecido como primeiro jornal brasileiro.
      Em 1811, escreveu o livro Narrativa da Perseguição, reeditado durante as comemorações do bicentenário do seu nascimento. Essa obra é considerada um tratado de defesa da maçonaria. Nesse livro, Hipólito José da Costa narra os horrores que sofreu durante sua prisão, onde o motivo da acusação foi o fato de pertencer à maçonaria. Ainda, em 1811, Portugal, representado pelo conde de Funchal – inimigo feroz de Hipólito da Costa – subvencionou, em Londres, o jornal O Investigador Português (1811-1819) numa tentativa desesperada de neutralizar as críticas e denúncias que Hipólito da Costa registrava ,no seu mensário, acerca da administração e da política do governo português.

      Casamento e filhos
      Em 07/071817, Hipólito José da Costa se casou com Mary Ann Troughton, resultando dessa união três filhos: Augusta Carolina, Anne Shirley e Augustus Frederick, este último nome foi em homenagem ao seu protetor e amigo o duque de Sussex. Também foi pai de um menino, cuja mãe era filha de seu amigo, sr. Lewis, dono da tipografia na qual iniciou a impressão do Correio Braziliense. A jovem mãe veio a falecer solteira, e Hipólito da Costa assumiu a paternidade do menino. Devido a esse fato, alguns o acusam de ter um filho bastardo, mas essa informação não é verídica.

      O patrono da imprensa brasileira foi maçom destacado, chegando à posição de Grão-Mestre Provincial do Condado de Rutland, na Inglaterra. Depois de elevado ao Grau 33, foi encarregado, por patente de 13 de outubro de 1819, do Supremo Conselho de França, junto com outros Grão-Mestres ingleses, para fundar O Supremo Conselho para a Inglaterra, Irlanda e Domínios, tornando-se seu primeiro secretário. Em 02/12/1819, foi proclamado membro honorário do Supremo Conselho da França.