A Maçonaria é uma instituição de mais de 300 anos
cuja tradição filosófica se assenta sobre 3000 anos de história.
Partindo dessa premissa podemos dividir sua origem em duas versões: a
origem lendária (que iremos abordar neste artigo) e a origem histórica.
Entendemos como origem histórica o período de 1717, amparado por farta
documentação, acerca da fundação da Grande Loja de Londres. É nesse
ponto que podemos afirmar categoricamente que a Maçonaria passa a
existir como instituição. No entanto, essa irmandade, fruto da Idade
Moderna, baseia-se em conceitos, tradições e rituais que antecedem sua
existência.
Poderíamos retroceder até 3000 anos de história para
recompor essa tradição. Boa parte dela é de natureza essencialmente
religiosa. É com base no cristianismo que diversas lendas ou alegorias
maçônicas são tecidas. Dentre estas talvez a mais importante seja a
história da construção do templo que abrigou a Arca da Aliança cujos
principais personagens foram: o construtor Hiram Abiff e o próprio rei
Salomão.
O Templo de Salomão em particular ocupa uma posição de
destaque dentro da simbologia maçônica, tratando–se de uma das maiores
fontes de símbolos, alegorias, lendas e ensinamentos da Maçonaria. Por
se tratar de uma construção com mais de 3000 anos de idade, é natural
que diversas dúvidas surjam no decorrer da busca das origens maçônicas.
Podemos nos perguntar: o Templo de Salomão realmente existiu? Se
existiu, quais eram suas dimensões? Hiram Abiff foi um personagem real?
Antes
de tudo, é preciso lembrar que não há qualquer registro extrabíblico a
respeito da construção do Templo de Salomão. Dessa forma, contamos
apenas com a Bíblia como documento. Partimos então de uma nova pergunta:
“a Bíblia pode ser interpretada como fonte histórica?”
Para
responder a essa pergunta, precisamos voltar a dezembro de 1892 quando
George Smith apresentou uma notável descoberta à sociedade de
arqueologia bíblica de Londres. Ele entregou a tradução de uma tábua
mesopotâmica contendo o relato de um dilúvio. Talvez, o mesmo dilúvio
que levou Noé a construir sua arca. Esse fato criou uma febre entre
arqueólogos e historiadores que passaram a pesquisar a arqueologia
bíblica como uma ciência.
A Bíblia, em particular o antigo
testamento, formam um conjunto de histórias contadas através da tradição
oral. “Enquanto todas essas histórias circulavam, surgiam os primeiros
sistemas de escrita do mundo. Por volta de 3.200 a.C. o povo da
mesopotâmia desenvolveu a escrita cuneiforme, na qual símbolos eram
prensados em placas de argila ou em entalhos na pedra”. BEITZEL, Barry J.
Bíblica – o Atlas da Bíblia, p. 16.
Concomitantemente, o Egito
desenvolveu o sistema de hieróglifos. Essas duas nações desempenharam
papéis fundamentais na história bíblica e forneceram importantes ícones
para a tradição maçônica.
Na época de Davi e Salomão, o sistema de
escrita encontrava-se mais desenvolvido. Por volta de 1011 a.C. o jovem
rei Davi iniciou um período de expansão literária. Atribui-se a ele
muitos dos salmos da Bíblia. Durante seu reinado foram designados
escribas para redigir e manter crônicas de seu reinado. Quando Salomão
assumiu o trono, além de iniciar a construção do Templo encomendou
diversos Salmos para serem celebrados ali.
Apesar das minuciosas
descrições registradas na Bíblia, ainda não foi possível, contudo, ter
certeza quanto ao primeiro templo de Jerusalém. A arqueologia bíblica
ainda não apresentou nenhuma prova válida da existência de tal obra.
Explica-se a ausência de vestígios arqueológicos à completa destruição
que teria sido realizada por Nabucodonosor, ou à insuficiência de
escavações no próprio sítio atribuído à localização do Templo. Esse
lugar (sagrado para Judeus, Muçulmanos, Católicos e Protestantes) seria
atualmente ocupado pela Mesquita de Omar, ou o Domo da Rocha, onde
Abraão, obediente a Deus, quase sacrificou seu próprio filho, Isaac
(Gen. 22.1-19) – onde, de modo significativo, a tradição islâmica
localiza Maomé subindo ao Céu. por causa desses fatos torna-se quase
impossível empreender uma busca arqueológica dos resquícios do templo de
Salomão.
Alguns historiadores referem-se ao célebre “muro das
lamentações” como tendo sido parte da grande alvenaria de arrimo na
esplanada do Templo. Contudo as determinações científicas de datação
conferem ao muro idade próxima à década anterior ao nascimento de
Cristo. Dessa forma, essa obra seria mais adequada de ser atribuída ao
terceiro templo destruído pelos romanos.
Por outro lado, não
existem dúvidas quanto à existência do reinado de Salomão. Esse sábio
rei foi um exímio administrador. Um de seus primeiros atos como rei foi
dividir o reino em distritos administrativos enviando provisões e
recursos para a corte. Através desse sistema Salomão pode empreender
grandes obras arquitetônicas, entre as quais supostamente estaria
incluído o Grande Templo.
Várias melhorias feitas por Salomão
foram confirmadas por arqueólogos: “o israelense Yigael Yadin descreveu
os imponentes muros e portões construídos durante o período salomônico,
incluindo um portão com seis câmaras e um muro com casamatas.” BEITZEL,
Barry J. Bíblica – o Atlas da Bíblia, p. 242.
Podemos ainda citar
“Gezer localizada aos pés das colinas centrais, perto de Selefá, que
ligava a via Maris (rodovia costeira internacional) a Jerusalém e foi
parcialmente destruída pelo Faraó egípcio em torno de 950 a.C., foi dada
a Salomão como dote por seu casamento com a filha do Faraó”. BEITZEL,
Barry J. Bíblica – o Atlas da Bíblia, p. 243.
Além disso, a cidade
de Jerusalém, escolhida como capital por Davi, cresceu em tamanho e
importância política durante o reinado de Salomão. A eira da Araúna
(também identificada como Monte Moriá), comprada por Davi e usada como
local sagrado para oferecer sacrifícios tornou-se o local para a
construção do Grande Templo.
O “livro de Reis” que integra a
Bíblia e narra a trajetória do Rei Salomão e a construção do grande
Templo encontra na arqueologia confirmação histórica. Diversos locais,
nomes e acontecimentos são cientificamente comprovados. Dessa forma,
podemos sim afirmar que o Templo de Salomão realmente existiu. Nada
contraria o fato de que toda sua forma gloriosa tenha sim sido
arquitetada pelo mestre de obras Hirão-Abi (2 Cr 2.13,14).
“Solomon Before the Ark of the Covenant” Blaise-Nicolas-Le-Sueur – 1747. Musée des Beaux-Arts.
A tradição bíblica ainda orienta importantes aspectos dos templos modernos. Devemos lembrar que segundo o livro de Reis as janelas do Templo de Salomão deviam estar acima do telhado das câmaras, eram de grades, não podendo ser abertas (1 Rs 6.4). Os objetos mais proeminentes no vestíbulo eram dois grandes pilares, Jaquim e Boaz, que Hirão formou por ordem de Salomão (1 Rs 7.15 a 22). Jaquim (‘ele sustenta’) e Boaz (‘nele há força’), apontavam para Deus, em Quem se devia firmar, como sendo a Força e o Apoio por excelência, não só o Santuário, mas também todos aqueles que ali realmente entravam.
A tradição bíblica ainda orienta importantes aspectos dos templos modernos. Devemos lembrar que segundo o livro de Reis as janelas do Templo de Salomão deviam estar acima do telhado das câmaras, eram de grades, não podendo ser abertas (1 Rs 6.4). Os objetos mais proeminentes no vestíbulo eram dois grandes pilares, Jaquim e Boaz, que Hirão formou por ordem de Salomão (1 Rs 7.15 a 22). Jaquim (‘ele sustenta’) e Boaz (‘nele há força’), apontavam para Deus, em Quem se devia firmar, como sendo a Força e o Apoio por excelência, não só o Santuário, mas também todos aqueles que ali realmente entravam.
Essa simbologia bíblica
alimenta defesas como do pesquisador maçônico Manly Hall. Para ele, a
construção do Templo de Salomão não tem uma importância direta para a
Maçonaria. Segundo ele, sua essência: “não é histórica nem arqueológica,
mas uma linguagem simbólica divina perpetuando sob certos símbolos
concretos, os sagrados mistérios dos antigos.
Apenas aqueles que
veem nela um estudo cósmico, um trabalho de vida, uma inspiração divina
de pensar melhor, sentir melhor e viver melhor com a intenção espiritual
de iluminação como fim, e com a vida diária do verdadeiro maçom como
meio, conseguiram um vislumbre dos verdadeiros mistérios dos ritos
ancestrais”. HALL, Manly P. As chaves perdidas da Maçonaria, p. 36.
É
certo que, seja ela histórica ou filosófica, a origem lendária atribui à
Maçonaria uma consistência incomparável frente as demais instituições
modernas.
Enviado pelo Ir.’. Igor Guedes de Carvalho - Bacharel em História pela Universidade Federal de Ouro Preto e Companheiro Maçom da Loja Vigilantes da Colina Nº 68, jurisdicionada à Grande Loja de Minas Gerais.
Fonte:
Bíblia Sagrada (tradução dos originais hebraico e grego feita pelos monges de Maredsous). São Paulo: Editora Ave Maria, 2001.
in: www.revistauniversomaconico.com.br/tempo-de-estudos/os-segredos-do-templo-de-salomao-primordios-da-maconaria-lendaria/